quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Maçonaria e Grãos-mestres



Escrever sobre ou falar de Maçonaria nunca e uma tarefa simples, não só por despertar um certo sentimento de desconfiança ainda latente no publico português (o velho e irracional temor da obscura conspiração revolucionaria dos pedreiros-livres...), mas também pela inacessibilidade geral das escassas fontes documentais disponíveis, pela parcialidade tendenciosamente ideológica do discurso transmitido nas divulgações efectuadas e por um certo temor ridículo de afectar a própria reputação. 

Trata-se, contudo, apenas de mencionar a mais externa (e, porque não dizer, esotérica?) das sociedades iniciáticas actualmente existentes. Mesmo assim, e apesar da nossa condição externa, atrevemo-nos à ousadia, não temendo as consequentes opiniões alheias, independentemente da polaridade oposta da natureza diferente dos respectivos conteúdos. Não só não se pretende perfilhar nenhuma corrente de pensamento de intervenção social, como não se provêm redigir nenhum tipo invulgar de ensaio historiografico que surpreenda, galvanize ou perturbe o leitor.

Compreender a Historia, o percurso, a doutrina e a importância da influencia inegavelmente decisiva da Maçonaria no devir civilizacional constitui efectivamente a primeira porta e possibilidade de abordagem dos movimentos inimagináveis engrenagens (que mais não são que puras exteriorizações de realidades ainda mais essenciais e hierarquicamente superiores) dos bastidores deste fascinante processo indescritível de iniciação evolutiva e pedagogicamente colectiva da Raça Humana que é a própria Vida.

Maçonaria é um esquema simbólico através de cuja linguagem, uma vez gradualmente compreendida, certos conhecimentos se vão obtendo, que fariam pasmar os magons regulares, ainda os de alto grau ou categoria.

Por: Fernando Pessoa

Procurando assim efectuar uma síntese histórico-evolutiva da presença maçónica em Portugal (Hercúlea tarefa a que hoje já correspondem ensaios portentosos cabalmente estruturados), o objectivo desta investigação consiste única e simplesmente numa tentativa concreta e possível de articular os marcos principais do desenvolvimento cronológico da sua existência efectiva, quer através das suas manifestações externas, quer pelos seus e organismos institucionais representativos divulgando o tema junto do grande publico, pouco ou nada familiarizado com ele.

Desta forma, cumpre desde já definir preliminarmente o assunto em causa: o que e a Maçonaria? Pode dizer-se de uma forma simplista que se trata de uma fraternidade esotérica internacional postulando uma via de evolução espiritualista não identificada com nenhuma confissão religiosa; contudo radicando na tradição socio-profissional operativa dos grémios e corporações arquitectónicas da Antiguidade, da Idade Media e do Renascimento, expressa na evolução pedagógica iniciática gradual proposta por cada um dos diversos ritos que a constituem ou sistemas litúrgico - doutrinais distintos transmissores de uma reflexão simbólica geométrico - cavalheiresca, através da dinâmica instrutiva desenvolvida e realizada nas lojas ou células de trabalho maçónico agrupadas colectivamente em Obediências ou federações hierárquico - territoriais administrativas.

Posto isto, resta convidar o leitor a viajar através da evolução nacional deste universo fascinante (microcosmos que espelha e representa um macrocosmos ainda mais excelso) que é a Fraternidade Maçónica, egrégora ou família espiritual em demanda continua de um ideal de Construção permanente do Cosmos e da Humanidade

Da operatividade à especulatividade

Radicando a génese da Maçonaria na tradição técnico-simbólica do oficio operativo da construção, tão escassamente documentada e mal conhecido, o contexto português tem sido quase nada investigado comparativamente ao internacional.

Um tal esforço epistemológico implicaria a investigação transdisciplinar profunda e demorada no âmbito académico conjunto da Historia e da Historia da Arte de inumeráveis acervos documentais datados entre os séculos XII e XVIII e espalhados por variadíssimos arquivos públicos e privados de norte a sul do Pais, debruçando-se concretamente sobre as relações estatutárias das corporações socioprofissionais, mesteres de ofícios mecânicos e companhas de pedreiros e escultores com os arquitectos, artistas imaginários, ordens religiosas e militares e encomendadores régios, nobiliárquicos, eclesiásticos e burgueses, bem como sobre as respectivas fontes de formação e informação pedagógica, tratados modelares, formas jurídicas contratuais administrativas. financeiras e comerciais.

Contudo, é perfeitamente possível referir alguns elementos disponíveis sobre esta questão concreta, aludindo com clareza elucidativa à presença maçónica operativa em território português. Com efeito, historiadores como Cristóvão Aires, Alexandre Herculano, Miguel António Dias, Timoléon François Bégue (Clavel), o conde Athanasius Raczynsky e Raúl Rêgo mencionam a vinculação do arquitecto irlandês David Huguet – que coordenou em determinada fase a construção do Mosteiro da Batalha, no século XIV – à Grande Loja de Iorque em Inglaterra, referindo a Maçonaria medieval como resultante do contacto espiritual e cultural entre arquitectos muçulmanos e cristãos por toda a Europa medieval. Por um lado, confirma-se a participação portuguesa neste contexto itinerante medieval da Maçonaria operativa europeia – a capela gótica quinhentista privativa da família aristocrática escocesa Saint-Clair of Rosslyn (próximo de Edimburgo), grão-mestres hereditários nacionais da Escócia entre os séculos XV e XVIII por privilegio real, ainda hoje se designa significativamente por Capela dos Portugueses, assim como, por outro, pelos enunciados atrás efectuados, se conhece que os detentores da gnose construtiva não eram exclusivamente plebeus; veja-se o caso exemplificativo do monge cisterciense francês Roberto, referido como arquitecto e autor tradicional da planta da igreja do Mosteiro de Alcobaça, enviado a Portugal por S. Bernardo de Claraval, abade geral da Ordem de Cister, com o objectivo de supervisão técnico-logística. Tais questões alertam-nos efectivamente para as características da intervenção participativa dos maçons operativos na edificação de qualquer singela igreja matriz paroquial ou edifício palatino ou civil até relevantes complexos monásticos como os atrás referidos, ou até mesmo o jeronimita de Santa Maria de Belém ou o templário de Cristo em Tomar em qualquer caso, marcando a sua presença, gravando as pedras com as suas siglas profissionalmente identificativas, imbuídas de profundo e inequívoco significado simbólico-iconográfico.

Ainda que se desconheça a data precisa da constituição das corporações mesteirais de ofícios em Portugal (embora tão ou mais antiga que a própria fundação da Nacionalidade), em Lisboa surge. em Dezembro de l383, uma instituição confederante destas, de representação consultiva junto da autarquia da capital, a Casa dos Vinte quatro (constituída por dois representantes de cada um dos doze ofícios oficialmente representados), extinta com a consolidação política do liberalismo socioeconomico em 1834.
Com efeito, este organismo terá preservado a integridade da idiossincrasia operativa dos mestres agregados, tal como a sua hierarquia administrativa se apresenta paralelamente analógica à tecnologia da escala iniciática da primeira estrutura maçónica especulativa portuguesa a Casa Real dos Pedreiros-livres da Lusitânia, à qual pertenceram alguns maçons operativos, entre os quais o arquitecto húngaro Carlos Mardel, responsável pela reedificarão da Baixa Pombalina após o terramoto destrutivo de 1755.

No entanto, e apesar da proliferação e multiplicação de sociedades maçónicas operativas portuguesas, particularmente ao longo dos séculos XVII e XVIII, o processo de especulativização filosófica e iniciática em Portugal, como em todo o mundo, não foi directo, antes descontinuo devido à implantação nacional das primeiras lojas especulativas, na primeira metade do século XVlll, de raiz inglesa e protestantes portanto culturalmente estranha a Portugal, nunca se relacionando directamente com a tradição operativa dos países de acolhimento, ainda que tenha eventualmente absorvido em parte algum contributo dessas corporações operativas moribundas (embora separando na pratica a componente técnico - académica da arquitectura, remetida a exclusividade pedagógica. do ensino superior elitista).

As primeiras lojas:
Ingleses e Franceses

As mais antigas referencias historio-grafico-documentais conhecidas sobre a existência das primeiras lojas maçónicas especulativas em território português surgem-nos nos processos jurídico-inquisitoriais do Tribunal do Santo Oficio de Lisboa. Vigilante e implacável, a Inquisição funcionava activamente desde 1542 como o braço judicial interventivo da Igreja Católica Romana, que aplicava de forma inflexível a rígida disciplina ético-moral da jurisprudência canónico-pastoral perante a Coroa, salvaguardando assim a exclusividade espiritual absoluta do catolicismo face a qualquer manifestação comportamental herética.

Assim, perante a conclusão do longo processo histórico de especulativização teórico-simbólica da Maçonaria, com a fundação da Grande Loja de Inglaterra, em Londres, em 24 de Junho de 1717, já completamente desvinculada da tradição socioprofissional operativa, como primeira Obediência institucional congregando federadamente lojas particulares ou células de trabalho litúrgico-iniciático, surge, cerca de 1728, a primeira loja maçónica especulativa nacional identificada, fundada em Lisboa pelo empresário católico ingles William Dugood, ai estabelecido com a sua família, sendo registada com o nº 135 em 17 de Abril de 1735 pela Grande Loja de Inglaterra (substituído pelo nº 120 em 1740). 0 seu grão-mestre, o conde de Weymouth, encarregou da sua regularização o matemático escocês presbiteriano George Gordon, que chegou a Lisboa nesse mesmo ano a bordo de uma importante frota naval britânica ancorada no porto. Com efeito, a influencia civilizacional britânica encontrava-se firmemente implantada em Portugal desde a assinatura do Tratado comercial anglo-português de ),Methuen em 1703, determinando o comercio ultramarino dos vinhos portugueses com os têxteis ingleses, além de intensos contactos navais, constantes fluxos migratórios e excelentes relações diplomáticas, justificando consequentemente a existência de uma colónia de 1000 habitantes estabelecida em Lisboa, que contribuiu decisivamente para a consolidação do prestigio da produção cultural inglesa face a tradicional hegemonia francesa no seio da sociedade portuguesa e preparando este contexto o advento lógico e consecutivo colonial inglês da Maçonaria especulativa na Europa continental, principalmente em território português. 

Esta loja – designada pelos maçons católicos irlandeses como a loja dos mercadores hereges – era essencialmente composta de empresários ingleses anglicanos e escoceses presbiterianos nos, sobrevivendo apenas ate 1755, aquando da destruição maciça de Lisboa pelo terramoto de 1 de Novembro, eventualmente também devido a problemas logístico - funcionais de ausência de quórum mínimo para o funcionamento, o que lhe retirou o apoio e o reconhecimento maçónico de Londres, já que muito difícil e raramente admitiria candidatos não - britânicos no seio do seu comunitarismo etnoculural fortemente concentrado.

Por outro lado, uma outra loja existia – a já mencionada Casa Real dos pedreiros-livres da Lusitânia – estritamente integrada por clérigos regulares dominicanos, militares e empresários católicos irlandeses (além do engenheiro militar húngaro Carlos Mardel, interveniente directo na planificação urbanístico - volumétrica da reconstrução pombalina de Lisboa, posteriormente ao terramoto de 1755), reunindo mensalmente num restaurante junto ao Cais do Sodre, reflectindo sobre temas instrutivos, recreativos e económicos nos graus de aprendiz, companheiro, mestre, mestre excelente e grão-mestre ( sendo este último um cargo eleito anualmente no dia 24 de Junho, comemorativo de S. João Baptista, patrono da fundação da Maçonaria especulativa).

Após a proclamação da bula papal In Eminenti, de Clemente XII. em 24 de Abril de 1738, excomungando todos os católicos pertencentes a quaisquer sociedades secretas externas a autoridade espiritual da Igreja Romana, a Inquisição portuguesa investiu fortemente contra as lojas maçónicas, nomeada- mente as protestantes, já que a Casa Real se extinguiu obedientemente naquele mesmo ano. O estrangeirismo não latino da ) Maçonaria culturalmente britânica instalada em Lisboa foi então considerado potencialmente ateu e subversivo pelas autoridades políticas e religiosas portuguesas, que procuravam fortemente reprimir o seu ecumenismo fraterno.

Posteriormente, em 1743, o lapidário de diamantes calvinista suíço Jean Coustos, venerável mestre ou chefe de uma loja francesa não registada (ainda que naturalizado inglês pelo casamento), e preso pela Inquisição e subsequentemente libertado de um encarceramento torturante, sujeição a inquéritos e uma sentença de quatro anos ás galés através dos pedidos diplomáticos do rei Jorge II de Inglaterra junto do rei D. João V de Portugal, sob as influencias do embaixador inglês lorde Charles Crompton e do primeiro - ministro duque de Newcastle, para além dos esforços maçónicos do duque de Harrington. No regresso a Londres, em 1746, Coustos publica um relatório autobiográfico da sua prisão e torturas, onde exprime a sua gratidão ao monarca inglês e aos aristocratas seus intercessores, além de exaltar o excelente trabalho das lojas de Lisboa.

A loja a Cousto pertencia integrava quase exclusivamente cidadãos franceses (denunciando assim a sua natureza étnico-colonial) – como os lapidários Alexandre Jacques Mouton e Jean Thomas Brusle – com maior diversidade religiosa que as anteriores, tendo sido alvo em 1744 do primeiro auto-de-fé e inquisitorial realizado em Portugal, com a condenação torturante publica de maçons. Apesar de Coustos ter procurado intervir tolerantemente como agente missionário da Maçonaria protestante pró-inglesa, as lojas portuguesas futuras serão lógica e fundamentalmente compostas de nacionais católicos – quer pela brevidade do proselitismo efectuado, quer pela idiossincrasia sociológica do nosso país.


Do Pombalismo à Viradeira:
continuidade e perseguição

Sucedendo o rei D. José I ao seu pai, D. Joio V, o primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, posteriormente conde de Oleiras e marquês de Pombal, protegeu as lojas maçónicas em Portugal face às penalidades inquisitoriais e submeteu o clero católico - romano à autoridade da Coroa, tendo provavelmente ele próprio sido iniciado em Londres, em 1744, pelo príncipe de Gales, Frederico Luís, e admitido na Sociedade Real, agremiação cientifica mundialmente famosa, de origem e filiação maçónicas. Assim, reflectindo as doutrinas iluministas do despotismo esclarecido quanto ao primado do Estado, do esclarecimento cientifico e da tolerância social, Pombal submete a Companhia de Jesus ao controle da Coroa e transforma a Inquisição num instrumento político.
Entretanto, assim como diversos diplomatas, intelectuais, aristocratas, docentes, industriais, comerciantes e clérigos eram iniciados, quer em Portugal, quer em Inglaterra, a colónia britânica em Lisboa fundou em 1755 uma nova loja étnica não registada, existente até 1762) e algumas lojas militares inglesas surgiram no Norte do Pais, devido a forte implantação britânica no comercio monopolista português do vinho do Porto durante as Guerras da Independência com Espanha em 1762. É neste período que a Coroa contrata o general alemão conde Frederico Guilherme Ernesto de Schaumburg-Lippe para coordenar e instruir as tropas portuguesas, sendo também um dos grandes responsáveis pela implantação entusiasta da Maçonaria no exercito.

Na cidade do Funchal, na ilha da Madeira, uma outra loja maçónica de mercadores ingleses foi fundada em 1767, sendo pesadamente perseguida pelo governo local e acusada em 1770 de liberalismo e heresia, provocando diversos exílios temerosos para Londres.

Após a morte do rei D. José, em 1777, e a sucessão de sua filha, D. Maria I, o marquês de Pombal e os seus despotismo iluminista e proteccionismo maçónico são afastados, e Diogo Inácio de Pina Manique torna-se intendente geral da Policia do Reino em 1780, penalizando especialmente a Maçonaria, readquirindo a Inquisição a sua plana autonomia anterior. A presença simultânea de mercadores, refugiados e militares inglesas conduziu ao estabelecimento de lojas maçónicas dentro dos regimentos de tropas auxiliares e subsequentemente registadas pela Grande Loja Antiga de Inglaterra. Devido ao endurecimento da vigilância policial, diversos viajantes, particularmente ingleses, assistiram a muitas reuniões clandestinas de lojas a bordo de navios estrangeiros ancorados no porto de Lisboa. 

Adicionalmente, algumas detenções policiais de maçons ingleses com as suas famílias no castelo de S. Jorge causaram uma solicitação bem sucedida da Grande Loja de Inglaterra ao príncipe D. João (futuro rei D. João VI), regente da Coroa durante a loucura da rainha sua mãe. Foi a este retrocesso de reaccionarismo conservador, aliado à queda da burguesia pombalina, em substituição da antiga aristocracia de sangue, que se convencionou designar Viradeira.

Em consequência da irrupção de diversas revoluções liberais europeias (nomeadamente a francesa) e americanas no final do século XVIII, a burguesia capitalista portuguesa aproxima o seu eixo civilizacional rumo a França, lutando contra o absolutismo monárquico e lentamente substituindo as referencias culturais britânicas. Tal processo, iniciando uma nova conjuntura, teve os seus efeitos maçónicos, dado que a Grande loja de Inglaterra apenas registava lojas nativas no estrangeiro, impedindo a iniciação de cidadãos portugueses e de estrangeiros de outras nacionalidades.

No entanto, a constituição de novas lojas inglesas pelos súbditos britânicos Gordon, em 1798, e Burdwood, em 1803, a reunião maçónica anglo-tranco-portuguesa de compromisso realizada em 1797 a bordo da fragata Fénix, ancorada no rio Tejo (na qual foi fundada a primeira loja territorial nativa), e a contribuição decisiva do duque de Sussex, Augusto Frederico (filho do rei Jorge lll de Inglaterra e futuro primeiro grão-mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra em 1813, que residiu em Portugal entre 1801 e 1805 num semi-exílio), para a independência maçónica portuguesa foram os últimos actos do imperialismo maçónico britânico fundador (que abandonou Portugal através da partida dos regimentos militares ingleses, sucedido pela chegada de monárquicos franceses exilados e de tropas militares relacionadas com o Grande Oriente de Franca.


Obediências e Potências:
génese, diversidade e unificação

A génese de lojas maçónicas originalmente portuguesas (surgidas a partir da presença de militares alemães maçons na década de 1760, por ocasião das Guerras da Independência), não reconhecidas de inicio no plano administrativo pela Maçonaria britânica, o desejo obstinado e persistente de independência institucional com aceitação universal e um significativo incremento demográfico dos obreiros nacionais conduziram inevitavelmente à criação da primeira Obediência maçónica. nativa em 1802, o Grande Oriente Lusitano. O seu primeiro grão-mestre foi 3º conde de São Paio, sebastião José de Sampaio e Melo Castro e Lusignan, um neto do 1º marquês de Pombal, sendo a sua primeira Constituição aprovada em 1806 (influenciando mais tarde e de forma decisiva a primeira Constituição Política da Monarquia Portuguesa de 1822).

Entretanto, em Maio de 1802, o reconhecimento oficial da independência do Grande Oriente Lusitano pela Grande Loja Antiga de Inglaterra Obediência maçónica inglesa existente entre 1751 e l813, dissidente face à Grande Loja de Inglaterra, fundada em 1717) e a sua própria designação institucional transmitem a ligação cordial maçónica francesa em verdadeira ambiguidade contraditaria com a nossa aliança diplomática com a Inglaterra.

Tais rivalidades existentes no próprio seio da Maçonaria portuguesa, recém nascida, tornaram-se mais tarde expressas na implantação do Rito Francês ou Moderno de sete graus; na substituição dos exércitos invasoras franceses dos generais maçons Junot, Soult e Massena, em 1807 – 1811 (devido à desobediência portuguesa face ao embargo comercial continental anti-Britânico de Napoleão Bonaparte, e das suas lojas militares pela colonização inglesa do marechal visconde William Carr Beresford e do general Lord Arthur Wellesley. duque de Wellington, em 1808 1820, e suas equivalentes; na libertação de maçons portugueses sob a influencia do duque de Sussex, após encarceramento e exílio decretado em Setembro de 1810 pelos ocupantes franceses, como aliados de Inglaterra; no registo inglês, em 18l0. da Loja portuguesa de Londres "Lusitânia" , composta de maçons portugueses exilados; e na execução por enforcamento do general Gomes Freire de Andrade, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, em 1817, como penalidade por conspiração contra a dominação militar Britânica de Portugal.

Após a revolução liberal de 1820 planeada por maçons congregados numa sociedade secreta política, o Sinédrio), que aboliu o absolutismo monárquico em Portugal, a dominação inglesa foi expulsa com a sua influencia maçónica e novos contactos apenas ocorreriam em 1828, quando a restauração do absolutismo com o rei D. Miguel I forçou diversos maçons, liberais e intelectuais portugueses ao exílio em Inglaterra, onde fundaram em Plymouth a loja Fidelidade nº 14 do Grande Oriente Lusitano. Desde 1820, as relações diplomáticas entre as Maçonarias inglesa e portuguesa restringem-se estritamente a meros contactos de cortesia. Com a consolidação do liberalismo após a capitulação e subsequente expatriação do rei D. Miguel I na Convenção de Evoramonte, em l834, a Maçonaria portuguesa vincula-se progressivamente mais à crescente politização da sociedade civil, cada vez mais cindida em tendências ideológicas polarizadas. Reflectindo assim perfeitamente o espectro político nacional, a Fraternidade maçónica em Portugal decai de forma significativa ainda hoje (restringindo-se à mera defesa ético-cívica dos ideais liberais e em função do seu passado clandestino), centrada numa aparência filantrópico-moral que desfigurou a sua essência iniciático - beneficente.

Assim, e ainda durante a guerra civil entre. liberais e absolutistas, os exilados portugueses em Inglaterra (designados "cartistas" ou adeptos da Carta Constitucional da Monarquia portuguesa de l826, outorgada pelo rei D. Pedro IV, ele próprio maçon) consideravam seu grão-mestre José da Silva Carvalho desde 1828 , ao passo que: os liberais emigrados em França nomearam João Carlos de Saldanha Oliveira Daun), futuro duque de Saldanha (na linha condutora do vintismo quanto ao purismo revolucionário de l820 e da Constituição de 1822.

Subsequentemente à consolidação do liberalismo em 1834, afirmam-se estas tendências, acrescentando-se-lhes a facção de Manuel da Silva Passos (Passos Manuel) no Porto artífice do Setembrismo, movimento político que defendia em 1836 a restauração da Constituição de 1836 a restauração da constituição de 1822, antecedendo o advento da efémera Constituição de 1838, representando um compromisso entre o purismo daquela e a moderação da Carta de 1826, designada por Maçonaria do Norte, distinta da do Sul do duque de Saldanha, em Lisboa, e do Grande Oriente do Rito Escocês de José da Silva Carvalho.

Posteriormente, em 1849, o Grande Oriente lusitano cindiu-se em duas Obediências, graças aos conflitos graves entre maçons cartistas ou cabralistas, adeptos do presidente do Conselho de Ministros, António Bernardo (Costa Cabral, marquês de tomar) e vintistas, originando respectivamente a Grande Loja Portuguesa e o Grande Oriente de Portugal – provocando assim a extinção do Grande Oriente Lusitano, só ressurgido em 1859.

Entretanto, em 1849, as anteriormente referidas Maçonarias do Norte e do Sul fundem-se numa nova Obediência. a Confederação Maçónica, surgindo uma outra em 1863, a Federação Maçónica. Subsequentemente, estas fundem-se em 1867 no Grande Oriente Português, juntamente com o Grande Oriente de Portugal e a Grande Loja Portuguesa.

Mais tarde, em 1869, todas estas Obediências originam uma única, o Grande Oriente Lusitano Unido até hoje expresso exteriormente pela personalidade jurídica da associação civil Grémio Lusitano, paralelamente ao qual existem o Grande Oriente da Maçonaria Ecléctica Lusitana, Obediência essencialmente iniciática distinta das demais políticas fundada em 1853 e absorvida cerca de l896, e o Oriente Irlandês, ou Grande Loja Provincial de Portugal da Grande Loja da Irlanda, igualmente com cariz filantrópico-espiritualista e afastado das suas homologas portuguesas politizadas. fundado em Lisboa em 1838 e integrado em 1872.
Face a um significativo e indesmentível incremento demográfico na Maçonaria portuguesa unificada, sisões ocasionais de lojas ocorriam esporadicamente e sem grande expressão, bem como o surgimento de novas Obediências – reflectindo concretamente a pacificação geral no liberalismo monárquico- -constitucional estabilizado.

Assim, em 1882, uma cisão profunda ocorrida no seio do Rito Simbólico, sistema litúrgico-maçónico constituído apenas pelos três primeiros graus aprendiz, companheiro e mestre, alem de um grau suplementar sobre a mitologia arquitectónica do Templo de Salomão, o Arco Real) gera em Lisboa a Grande Loja dos Antigos Mações Livres e Aceites de Portugal, extinguindo-se em 1884 por absorção no Grande Oriente Lusitano unido.

Em 1897, uma nova cisão lisboeta conduziu a retoma da designação Grande Oriente de Portugal, extinta em 1904 e seguida da autonomização interna, entre 1894 e 1899, de um circulo do Grande Oriente Lusitano Unido designado Grémio Escocês e integrando algumas lojas particularmente activas na sociedade civil. Verificamos assim, conclusivamente, que a evolução institucional da Maçonaria portuguesa ao longo de todo o século XIX reflectiu com evidencia a sua crescente politização profana, bem como a sua irreligiosidade visceral progressiva (esta ultima mais definida desde o final da década de 1870 por influencia da jacobinização ateia da Maçonaria francesa), conduzindo a inevitável partidarização desintegrante de todos e quaisquer esforços conjuntos. Contudo, e em paralelo, há que igualmente mencionar a existência de Potências independentes ou estruturas institucionais administrantes de sistemas litúrgicos de graus maçónicos superiores, constituindo diferentes prolongamentos ritualisticos de aperfeiçoamento iniciático dos graus simbólicos universais de aprendiz, companheiro e mestre (colocados sob a tutela das Obediências instituídas e existentes em cada território nacional. Assim, no final do século XIX existiam lojas portuguesas simbólicas do Rito de Mênfis Misraim sob jurisdição espanhola (surgido em França em consequência da descoberta politico-cultural contemporânea da civilização e da tradição iniciática egípcias e extremo-oriental, subsequentemente a divulgação litúrgico-doutrinal efectuada no final do século XVlII em Itália pelo misterioso aristocrata conde Alessandro di Cagliostro (que terá então passado por Lisboa, tentando fundar uma loja maçónica com aristocratas portugueses na sua dependência, ao passo que, no inicio do século XIX, assistimos a introdução em Portugal do Rito Adoniramita (criado no fim do século XVIII em França pelo barão de Tschoudy e baseando-se na mitologia construtiva do Templo de Salomão) como primeiro sistema litúrgico-maçónico superior português, seguindo-se-lhe os graus cavaleirescos do Rito Francês ou Moderno igualmente surgido na mesma época sob o patrocínio oficial do Grande Oriente de França) – que se assumiu originalmente como único oficial e praticado pelo então recém-fundado Grande Oriente Lusitano –, posteriormente gerido com autonomia pelo Soberano Grande Capítulo de Cavaleiros Rosa+Cruz de 1869 a 1935.

Ainda na primeira metade do século XVIII, são praticados no seio das lojas inglesas estabelecidas em Portugal os altos graus do Rito de Iorque (então surgidos nas Ilhas Britânicas e aludindo explicitamente a mitologia arquitectónica da génese e funcionamento litúrgicos do Templo de Salomão), geridos no século seguinte pelo Supremo Grande Capitulo da Suprema Ordem do Santo Arco Real de Portugal, assim como nesta mesma época se introduz o Rito de Adopção para funcionamento nas lojas maçónicas femininas portuguesas (também de origem francesa setecentista e vigente até à primeira metade do século XX) e regido superiormente por uma câmara litúrgica independente. 

Contudo, e posteriormente, entre 1840 e 1844, instala-se a totalidade dos altos graus do sistema liturgico maçónico mais difundido em Portugal, mesmo na actualidade: o Rito Escocês Antigo Aceite. Após a introdução dos correspondentes graus simbólicos em Lisboa, em 1837, com a Grande Loja Provincial de Portugal da Grande Loja da Irlanda e a adesão entusiasta do Grande Oriente do Rito Escocês, esta Obediência e o Grande Oriente Lusitano envidaram todos os esforços possíveis no sentido de receberem regularmente a transmissão iniciática deste sistema a partir de Potências homologas tradicionais do Brasil, neste rito designadas Supremos Conselhos dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite. Os Supremos Conselhos portugueses deste rito – fundado nos Estados Unidos da América em 1801, com base na pretensa organização do rei Frederico II da Prússia de síntese litúrgica da diversidade de altos graus arquitectónicos e cavaleirescos vigentes no Ocidente no fim do século XVlII – radicam de certa forma no funcionamento litúrgico em Lisboa de um antecessor directo, o Rito de Heredom e Kilwinning (originado em França na mesma época, de origem mítica escocesa), de 25 graus, apenas durante alguns anos ainda antes da fundação do Grande Oriente Lusitano, alem de também corresponder, de certa forma, à pluralidade institucional de Obediências então existente em Portugal.

Contudo, a sua posterior fusão numa única Potência opera-se simultaneamente a fundação do Grande Oriente Lusitano Unido em 1869, assumindo desde então até à actualidade uma clara predominância efectiva sobre os restantes ritos, reflectida na junção onomástica das duas designações institucionais: Grande Oriente Lusitano Unido – Supremo Conselho da Magoaria Portuguesa. A sua adopção oficial contribuiu também decisivamente para o seu afastamento da esfera de influencia maçónica inglesa e do seu Rito de Iorque.


Da Republica à actualidade

A consolidação do liberalismo institucional, a lenta ascensão do republicanismo e a degradação partidária do parlamentarismo monárquico, bem como a disseminação do ideal jacobino de secularização e laicização revolucionarias da sociedade portuguesa face ao Catolicismo Romano como religião oficial do Estado, conduziram ao acentuar progressivo da politização da Maçonaria portuguesa ao longo da segunda metade do século XIX, rumo à instauração da Republica em 1910.
Subsequentemente a maçonização do próprio Estado republicano – com a presença de maçons nos governos e na administração publica, apesar da fragmentação múltipla e irremediável do próprio Partido Republicano Português –, verifica-se entre 1914 e 19a1 uma grave cisão no seio do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite, de denuncia da unificação de chefias com o Grande Oriente Lusitano Unido, constituindo uma Obediência distinta, o Grémio Luso-Escocês, com cerca de 100 lojas subtraídas. 

Por outro lado, posteriormente as perseguições incentivadas pelos ex-maçons e presidentes da Republica major Sidónio Pais em 1918 e general Carmona em 1928 – contudo desde o golpe de Estado revolucionário de 28 de Maio de 1926, que pôs termo a normalidade democrático-constitucional da Primeira Republica e subsequente substituição pela ditadura militar que originaria o regime político do Estado Novo, a promulgação da nova Constituição autoritária de 1933 prepara o advento da promulgação da Lei do Ministério da Justiça nº 1901, de 21 de ) Maio de 1935, coroando as sucessivas vagas de atemorização e encarceramento de milhares de maçons com a declaração obrigatória as autoridades publicas dos estatutos, regulamentos, membros, corpos gerentes, objectivos, instalações e métodos de funcionamento das sociedades secretas existentes em Portugal, especialmente vinculando os funcionários públicos com um juramento particular, sob pena de demissão, além das determinações prévias de prisão ou expulsão territorial Assim, apesar dos protestos do grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, general Norton de Matos, junto do ex-maçon Prof. José Alberto dos Reis, presidente da então Assembleia Nacional, e da defesa jornalística da integridade ético-maçónica pelo poeta Fernando Pessoa, a Maçonaria tornou-se oficialmente extinta e o seu património confiscado pelo Estado. Apesar dos encarceramentos, das torturas e das perseguições, as lojas prosseguem perigosamente as suas reuniões secretas e o seu relacionamento diplomático internacional fragilizado, cooptando e aumentando com lentidão seleccionada os seus contingentes, unificando-se, nova e temporariamente, por necessidades estratégico-funcionais, as chefias do Grande Oriente Lusitano Unido e do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite – o qual, por seu lado, absorveu as competências institucionais de cada uma das outras Potências existentes, podendo restaura-las em caso de liberalização politico-constitucional. A clandestinidade apenas consolidou compreensivelmente ainda mais a politização ideologico-profana da Maçonaria portuguesa, auto-exilada no seu ocultamento, em profundo envolvimento com a resistência de oposição ao Estado Novo.

Paralelamente, as Obediências estrangeiras mais tradicionalistas retiram o seu reconhecimento perante o envolvimento ideológico progressivo do Grande Oriente Lusitano Unido até a interdição de l935. No sentido de procurar readquirir estrategicamente o reconhecimento britânico perante um isolamento internacional cada vez maior, imposto pela ditadura corporativa o Grande Oriente convoca em 1941 – em plena II Guerra Mundial – uma reunião secreta das suas cúpulas e proclama uma nova Constituição, marcada pela aceitação incondicional dos padrões de regularidade institucional estabelecidos pela Grande Loja Unida de Inglaterra em 4 de Setembro de 1929 e envia diversas mensagens alusivas para Londres e a todas as Obediências americanas. Contudo, nenhum resultado positivo foi atingido, já que a Maçonaria inglesa não reconhece oficialmente nenhuma Obediência que trabalhe clandestinamente, sem a aceitação declarada do governo do respectivo pais. O Estado Novo foi extinto pela Revolução Militar de 25 de Abril de l974, sendo a Maçonaria portuguesa – neste contexto identificada com o Grande Oriente Lusitano Unido – oficialmente liberalizada pelo artigo 18 da Lei nº 594/74, de 7 de Novembro, pondo assim termo a longa e dolorosa clandestinidade persecutória de quase 50 anos. O Grande Oriente readquiriu assim plenamente o seu património próprio e a sua liberdade funcional. aliada a uma posição política progressivamente influente – mercê do seu contributo para a resistência de oposição ao Estado Novo – na linha de continuidade da sua politização afamada já secularmente, e, em consequência, permanecendo internacionalmente quase isolado, cessando ainda a união estratégica da chefia institucional com o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceite, sem contudo se restaurarem quaisquer dos outros ritos previamente existentes. Além disso, a descolonização africana concluiu o processo de desaparecimento das lojas maçónicas ultramarinas encetado pelo Estado Novo. já na década de 80, surgem em Portugal lojas de Obediências estrangeiras marcadas por perspectivas iniciáticas distintas das da Maçonaria portuguesa até aqui existente, cedo estabelecendo com ela relacionamentos diplomáticos fraternos.

Trata-se, respectivamente, da Grande Loja Feminina de França (surgida em Paris no inicio da década de 50 e congregando as lojas exclusivamente femininas existentes desde o final do século XIX) instalada em Lisboa, Porto e Figueira da Foz – que originou em l997 a Obediência independente da Grande loja Feminina de Portugal e da Ordem Maçónica Mista Internacional – Direito Humano (Obediência fundada em Paris em 1893, funcionando quase exclusivamente na totalidade dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceite e admitindo homens e mulheres em plena igualdade à iniciação maçónica), em Lisboa e Porto – tendo já existido em Lisboa em 1923 – 1926. Podemos igualmente referir a presença de lojas maçónicas inglesas e norte-americanas em território português, reflectindo interesses estratégicos de utilidade das respectivas comunidades étnico-nacionais de cada pais aqui radicadas.
Por outro lado, um grupo de maçons no seio do Grande Oriente procura ganhar sem sucesso as eleições para o grão- mestrado em 1983, saindo inconformados da Obediência para fundar uma outra em Novembro do ano seguinte, a Grande Loja de Portugal, com o objectivo de adquirir o reconhecimento regular de funcionamento maçónico-institucional por parte das Obediências tradicionalistas já que o Grande Oriente Lusitano (que entretanto abandonara obviamente a designação de Unido) tinha relacionamentos diplomáticos apenas com as Obediências ditas liberais e mais politizadas, como a Grande Loja Unida de Inglaterra e a Grande Loja Nacional Francesa.

Neste sentido, e após longas negociações, os membros da Grande Loja de Portugal (entretanto registada em cartório notarial em 23 de Abril de 1985, sob a personalidade jurídica da associação cultural Centro de Estudos Humanisticos) obtém a admissão no seio da Grande Loja Nacional Francesa, constituindo lojas distintas em território português, posteriormente agrupadas numa Grande Loja do Distrito de Portugal, que, em 29 de Junho de 1991 adquire a independência maçónica como Grande Loja Regular de Portugal. sendo subsequentemente reconhecida como instituição soberana pelas Obediências consideradas regulares do mundo inteiro. Após poucos anos de consolidação estrutural, esta Obediência enceta igualmente providencias no sentido de estabelecer a continuidade evolutiva de cada rito já trabalhado nos graus simbólicos. Assim, em 1993, em coordenação com a Grande Loja Regular de Portugal, surge o Supremo Conselho para Portugal dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º e ultimo grau do Rito Escocês Antigo e Aceite (administrando os graus superiores do Rito Escocês Antigo e Aceite, sendo empossado pelo Supremo Conselho norte-americano de Washington, DC – Jurisdição Sul); em 1995, funda-se o Grande Priorado Independente da Lusitânia (responsável pelos altos graus do Rito Escocês Rectificado, surgido em França e na Alemanha no fim do século XVIII por transmissão de linhagens iniciáticas maçónico-templárias alusivas a mitologia cavaleiresca, sendo criado pelo Grande Priorado Independente de Helvécia); e, em 1996, o Supremo Grande Capitulo do Arco Real de Portugal (gerindo os graus de aprofundamento iniciático do Rito de Iorque, sendo emanado do Grande Capitulo do Arco Real Internacional, sediado nos Estados Unidos da América). Finalmente, os acontecimentos mais recentes que marcam estruturalmente a evolução histórica da Maçonaria portuguesa consistem na fundação, em 1994, de um Grupo Administrativo Português da Liga Universal Franco-Maçónica (organização maçónica internacional fundada no principio do século XX, dedicada ao estreitamento de laços fraternos entre todos os maçons do mundo inteiro em todas as áreas possíveis – sendo fundamentalmente constituída por membros de Obediências ditas liberais, e na ocorrência. de uma grave cisão subversiva em 1996 no seio da Grande Loja Regular de Portugal, que obrigou à alteração da sua designação júridico-associativa pelas suas autoridades regularmente empossadas, com a junção da expressão distinta Grande Loja Legal de Portugal.

Conclusão Chegando ao termo deste sucinto périplo histórico da evolução institucional da Maçonaria portuguesa, constata-se a profunda superficialidade e escasso desenvolvimento da informação transmitida face à exiguidade de espaço. Alem disso, constata-se igualmente duas evidentes contradições: por um lado, o contraste evidente entre a primitiva Maçonaria operativa e a sua sucessora especulativa e, por outro, o paradoxo entre a teoria e a pratica, ou reja, a Doutrina simbólica da Construção permanente e universal do Homem e do Cosmos, e uma instituição cristalizada no seu próprio funcionamento administrativo como enclave subversivo de estratégias mundanas. No entanto, a evidente acessibilidade da herança arquitectonico-geometrica do património monumental da Maçonaria operativa e a profícua diversidade da produção literario-documental da Maçonaria especulativa remetem claramente no sentido intrínseco e subjacente da Demanda de realização individual e colectiva através de uma via iniciática de evolução espiritual diversificada, meditando fundamental mas não exclusivamente sobre o processo cosmogonico de Criação genética da realidade fenomenica que integramos, muito além da mera e superficial apologia violenta de valores políticos básicos de liberdades e garantias civico-sociais e melhoria de condições existenciais da qualidade de vida material e mental, inerente a todo e qualquer esforço humano em geral. Com efeito, na actual época contemporânea de que somos coevos, a maçonaria portuguesa parece-nos começar a exprimir tímida e paulatinamente, na sua ampla diversidade de organizações externas, a manifestação efectiva daquele seu dinamismo hermético próprio (essência da Ordem que ela mesma afirma representar), em detrimento da profanidade politizante de que tem sido alvo e manifestado mesmo em conexão com a Tradição iniciática especifica portuguesa do Quinto Império e da Idade do Espirito Santo da Redenção regeneradora da Humanidade. Esperemos que ela doravante trabalhe apenas e de facto a Gloria do Grande Arquitecto do Universo, seu Patrono e único Grande Mestre absoluto e autentico, e não mais a do mundo profano que se lhe opõe e com o qual ela se tem ilicitamente envolvido em compromisso.


A MAÇONARIA PORTUGUESA
E OS DIRIGENTES EXTERNOS

Ao longo da sua evolução histórica, a Maçonaria portuguesa procurou sempre organizar-se institucionalmente no sentido de congregar no seu seio todos os maçons integrantes, agremiar todas as lojas sob as diferentes dependências e cobrir de forma unificada todo o território nacional através de uma mesma tutela estrutural. De facto, essa tendência é claramente visível durante a primeira metade do século XIX, com a fundação subsequente e simultânea das diversas Obediências então existentes, até à criação, em 1869, do Grande Oriente Lusitano Unido, unificando assim todos os seus homólogos antecedentes, bem como desde a década de l980 em diante, com o surgimento de novas instituições nacionais soberanas.

Por outro lado, as Potências independentes administrantes dos graus superiores dos diversos sistemas litúrgicos maçónicos igualmente sempre manifestaram esta mesma perspectiva de soberania territorial indivisível, também por consequência de reflexo de protocolos de relacionamento institucional estabelecidos com as respectivas Obediências simbólicas. Neste sentido, apresentamos aqui as listas nominais identificativas dos dirigentes das diversas organizações maçónicas portuguesas instituídas nos séculos XIX e XX, os seus respectivos âmbitos cronológicos, períodos de mandato, designações institucionais e títulos hierárquicos especificamente assumidos.

OBEDIÊNCIAS SIMBÓLICAS

E RITOS

Grãos mestres do Grande Oriente Lusitano (1802-1849)

Sebastiao Jose de Sampaio Melo e Castro Lusignan (1802-1809).
José Aleixo Falcao de Gamboa Fragoso Wanzeler (1809?).
Fernando Romao da Costa de Ataide e Teive Sousa Coutinho (1809-1814?).
Fernando Luís Pereira de Sousa Barradas (interino) (1814? – 1816?).
Gomes Freire de Andrade (1816 – 1817).

João Vicente Pimentel Maldonado (interino, (1820 – 1821).
João da Cunha Souto Maior (1821 – 1823).
José da Silva Carvalho (l823 – 1839).
Manuel Gonçalves de Miranda (1839 – 1841).
Antonio Bernardo da Costa Cabral (1841 – 1846).
Joao de Deus Antunes Pinto (interino) (1846).
Marcelino Máximo de Azevedo Melo (interino) (1846 – 1847).
António Bernardo da Costa Cabral (1847 – 1849).
Marcelino Máximo de Azevedo e Melo (interino) (1849)



Grãos-mestres do Grande Oriente de Portugal
(1849-1867, 1897-1904)


Marcelino Máximo de Azevedo e Melo (1849 – 1853).
Jose Joaquim de Almeida Moura Coutinho (1854--1861).
Frederico Leão Cabreira (interino) (1861 – 1863).
Caetano Gaspar de Almeida Noronha Portugal Camões de Albuquerque Moniz e Sousa (1863 – 1867).

Joaquim Brito de Carvalho (1897 – 1902).
António Gomes da Silva Pinto (interinoj (1902 – 1903).
Custodio Miguel de Borja (1903 – 1904).
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